sábado, 15 de novembro de 2008

sOU

Ouvi que o mundo não era feito de flores amarelas que exalavam sonetos de fragrância azul, por isso mesmo pintava em uma folha em branco letras coloridas, só assim poderia tocá-las e pedacinho por pedacinho comê-las. Fazer disso meu corpo, meu som, minha própria parte, eu que sou só vocábulo.
E descobri que não há cor se não a inventamos. Que o desejo se veste com uma pele macia para esconder sob a voz da ternura o que é dito, e que deveras é duro, mas sempre é ouvido com melodia romantizada: "Vem aqui, abra as pernas, ninguém verá... Aqui faz-se escuro e te quero toda, não tenha medo, seja minha que eu voltarei para dar-te o céu".
E brigava comigo mesma nesse trecho, odiava fazer de mim uma personagem que acreditava nisso, que ouvia o cântico dos pássaros a embalar o parágrafo de muitas linhas. Queria fazer de mim um quem a dizer com voz deliciosamente má: "Sou eu quem quero, você todo, sem promessas nem dívidas, em carne e gozo".
Me fiz assim por instantes da obra, mas vi que vez ou outra, repetia versos, mesmo que mentalmente, das bordadeiras em frente aos seus portões com feijão no fogo para o homem dos sonhos.

Sou Amélia, Lolita, Maria, Gabriela, Lucíola, Marília, sou a curva em S.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

.retorno da viagem para às páginas.

Ah como demorei a voltar... Viajei sabe-se lá para onde e bem lá vivi os tempos mais intensos desde a minha criação.

Interessante eu ter descoberto tantas modalidades de intensidade... a vida se faz assim e percebo-me cada dia menos como personagem e mais como humana. Tão humana que ao invés de me transformar em fragmentos literais vivi sorrisos (des)contextualizados, sussuros que nunca foram monossilábicos, lágrimas quase onomatopéicas que cheiravam à página última de livro. Sangrei, mas também exalei o que inventei ser o gozo de almacarneamoreucorpoele.

E não me perguntem qual a história e não perguntem o meu paradeiro, qual dos capítulos, qual dos motes, só sei que estou viva por entre ali, redesenhada.

Esclareço, desde já, que não há romance, ficção, ou seja lá qual outra indicação de estilo sem que seja em si aventura. Corri, corro e correrei riscos e por mais que essa seja minha maior certeza, certeza comparada ao fim para os mortais, prossigo.
Aprendi, então, a amar o frescor das aventuras, mesmo que vocês possam pensar que estas foram apenas prensadas nos verbetes, mas eu as vivi sem dublê, e por isso poderia não ser mais nada a não ser a lástima e a lembrança que talvez nem deseje ser lembrada, mas não foi assim...

Há algo que não sei se vocês conseguem desmembrar para me explicar , já que por mais que tenha experimentado tantas coisas, aqui onde habitam os sonetos, versos, prosas não encontrei respostas. E é bem assim...

Algo que faz com que toda razão surja em diminutas doses. Como se todo o perigo não existisse, como se fizêssemos jus ao que dizem entre os becos de que a vida é de se entregar.

É sentir saudade de cheiros e sons, de mãos que não mais precisam escrever a não ser passear por contornos de pele, pele para se usar debaixo e por cima da roupa. Todas as substâncias interessantes no mundo passam a ser corpo, suor, voz e um forte abraço através do qual se sente o outro coração bater mais rapidamente e até mesmo ouvi-lo em sua vibração. Mas mesmo sem mãos, gostos, poros, cheiros, é querer estar junto, querer dividir silêncios e palavras até mesmo prescritas.

Outra personagem me disse que a essas linhas já a destinaram e a conclusão foi amor. Acho que amo mesmo sem saber o que isso significa...


Aquela que se contorce de dor e prazer em S.