sábado, 15 de novembro de 2008

sOU

Ouvi que o mundo não era feito de flores amarelas que exalavam sonetos de fragrância azul, por isso mesmo pintava em uma folha em branco letras coloridas, só assim poderia tocá-las e pedacinho por pedacinho comê-las. Fazer disso meu corpo, meu som, minha própria parte, eu que sou só vocábulo.
E descobri que não há cor se não a inventamos. Que o desejo se veste com uma pele macia para esconder sob a voz da ternura o que é dito, e que deveras é duro, mas sempre é ouvido com melodia romantizada: "Vem aqui, abra as pernas, ninguém verá... Aqui faz-se escuro e te quero toda, não tenha medo, seja minha que eu voltarei para dar-te o céu".
E brigava comigo mesma nesse trecho, odiava fazer de mim uma personagem que acreditava nisso, que ouvia o cântico dos pássaros a embalar o parágrafo de muitas linhas. Queria fazer de mim um quem a dizer com voz deliciosamente má: "Sou eu quem quero, você todo, sem promessas nem dívidas, em carne e gozo".
Me fiz assim por instantes da obra, mas vi que vez ou outra, repetia versos, mesmo que mentalmente, das bordadeiras em frente aos seus portões com feijão no fogo para o homem dos sonhos.

Sou Amélia, Lolita, Maria, Gabriela, Lucíola, Marília, sou a curva em S.

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